26 de dez. de 2012

Agora temos celular - viva o celular!

Não pensem que usei o plural majestático. Não. Refiro-me a "nós" - humanidade. Eu continuo a não usar esse aparelhinho maravilhoso. Não faço parte da humanidade, ou melhor, estou auto-excluído da modernidade.
Amanhã ia viajar para Maricá, passar lá a virada 2012/2013, levando comigo a Yasmim. Tudo combinado, a menina empolgada, contando os minutos. Sua mãe me telefonou há pouco desmarcando o que estava marcado. Motivo: a menina perdeu o carregador do seu celular, já não dava para comprar outro, a viajem tinha de ser adiada. Sem celular, como ela poderia se comunicar com a filha, saber se chegara bem, etc, etc, etc?
Em que pese o cuidado da mãe com a filha, eu fico encucado, pensando: como é que as pessoas viviam antigamente, sem celular? Como é que a humanidade conseguiu sobreviver e chegar ao século XX, sem esse aparelhinho maravilhoso, já que hoje nada se faz, nada se resolve sem ele? Mesmo as coisas mais banais. Me ajudem a entender esse mistério da sobrevivência humana. Por favor!

15 de dez. de 2012

Ivo não viu a uva

...Nem Eva viu a vovó.
Li recentemente uma entrevista com Michael Kirst, Presidente do Conselho de Educação da Califórnia, que anda às voltas com um novo currículo para a escola básica americana. Dentre outras críticas, sublinhei esta: "... a maior falha dos alunos americanos, ao entrar na faculdade, é na leitura e na escrita. Nessa área, vamos pior ainda que em matemática".
Se os americanos estão mal, como estamos nós?
Todos vocês já devem ter assistido ao Jô Soares, onde ele, por vezes, lê as barbaridades supostamente extraídas de provas de vestibulandos brasileiros. Se esses relatos são reais ou apenas peças humorísticas, pouco importa. Se já virou piada, a coisa é séria!
Sobre essa questão, levo a vocês, nas minhas próprias palavras, comentários do professor Pasquale Neto.
São cada vez mais comuns, nos concursos vestibulares, questões em que a teoria para responder corretamente a pergunta formulada está no próprio enunciado da questão. Basta ler e interpretar com atenção. Mas muitos candidatos erram! Talvez por falta de vocabulário: não entendem/não sabem o sentido de uma ou outra palavra e por isso perdem a "dica" do enunciado. Na verdade, essas questões não pretendem avaliar o que o candidato sabe de gramática, mas sua maturidade para leitura e interpretação.
Durante anos, na minha experiência de pai e avô e eventual explicador de Português, Matemática e outras disciplinas, para filhos e netos - meus e de outros – cheguei a igual constatação: vai mal o aprendizado do idioma pátrio.
Uma criança, nem tão pequena, 10/12 anos, tem dificuldade de interpretar um texto simples e curto. Um período com uma frase, ela entende; com duas, ainda consegue captar o sentido; com três frases, coordenadas ou subordinadas, perde-se totalmente. E muitas vezes, se está tentando resolver uma questão de matemática, fracassa porque não consegue interpretar o enunciado do problema proposto. Ela nem chega à matemática, que é outra história, já empaca na linguagem!
A linguagem é básica e essencial para todos os outros conteúdos. O próprio pensamento, o raciocínio, depende do suporte linguístico, sem o qual nenhuma ideia se formaliza.
A educação de qualidade pressupõe, portanto, o manejo eficaz do idioma, sem o qual tudo o mais fica comprometido.

 

 

 

9 de dez. de 2012

Sutil como um elefante

Este espaço, desde o início, pretendia ser dedicado à arte: literatura, poesia, crianças e outras artes.
Mas acontece que, às vezes, surgem temas, geralmente políticos, que me tocam sobremaneira e eu não resisto. E lá vai uma crônica política sobre a lei dos royalties, por exemplo. Com frequência perco a calma nessas situações, em detrimento da elegância do texto e da civilidade pessoal. Carece pois, separar o joio do trigo.
Acresce que arte e política não fazem, em geral, bom caldo. Essa mistura quase sempre vira panfletagem e a história da arte está cheia de exemplos.
Pensando nisso, e para preservar o sossego e a calma próprios de avô, resolvi instituir um assessor para assuntos políticos, áridos ou polêmicos, de modo a livrar-me de estresse. Eu quero é sossego!
Esse assessor responde em SUTIL COMO UM ELEFANTE  www.sutilefante.blogspot.com
Ou pode ser acessado pelo link abaixo, à direita.

6 de dez. de 2012

Meu caso com Niemayer


Caso de admiração incondicional, mas contida.
Admiração incondicional, desde sempre, pelo grande artista que foi, e pela percepção, nos últimos tempos, da sua estatura humanista, cuja estrela continuará iluminando gerações.
Admiração contida, em virtude de minha natureza tímida.

Algum tempo atrás, não faz muito tempo, fui ao Riocentro ver a megaexposição da obra de Niemayer, exposição esta que depois foi para São Paulo e Brasília e também para o exterior. Ao entrar, me confundi e fui parar noutra exposição, de móveis. Pensei que havia me equivocado quanto à exposição do arquiteto e, para não perder a viajem, entrei. Vi rapidamente, saí. E só então descobri o pavilhão da exposição do mestre. Mas já havia perdido um precioso tempo.

Quando vou a uma exposição, ou museu, paro diante da obra e fico apreciando durante longo tempo; e quando tem maquete então, giro em volta, agacho, examino de todos os ângulos, um inferno para quem estiver me acompanhando. Por isso gosto de ir sozinho. E era o caso, então.
Ainda fora do pavilhão, mas já apreciando absorto as primeiras obras expostas, de início de carreira, pensava: "Ele faz com o concreto coisas que até Deus duvida".
Então, olhando de soslaio, vi o Oscar Niemayer saindo do pavilhão, fumando sua cigarrilha. Era a hora de aproximar-me, cumprimentá-lo, expressar a minha admiração... Mas não quis incomodar...
Na verdade, incomodado estava eu, não com a presença do arquiteto, que era pessoa afável, mas com a minha timidez. Como quando se vê uma mulher muito bonita e se imagina que é muita areia para o seu caminhãozinho. Ah! pobres tímidos! Quantas oportunidades perdem!
E fingi não perceber a presença do homem, ignorei-o, e continuei a ver as obras, e entrei no pavilhão.

Daí em diante foi só encantamento com a obra exposta!

Mas de repente a luz apagou, os seguranças apagaram-na, o tempo acabara, saí batido.

Não conformado, voltei no dia seguinte: queria ver o restante das obras expostas e o documentário em que o próprio Oscar falava do seu trabalho e da sua vida.
Ao entrar, veio ao meu encontro uma jovem senhora, neta de Niemayer e curadora da exposição. Percebera a minha saída intempestiva no dia anterior, reconheceu-me e pedia desculpas pelo ocorrido. Tentei amenizar:
- É que eu já cheguei um pouco tarde...
- Não, eles não podiam ter feito isso. Já foram advertidos. Desculpe. O Oscar esteve ontem aqui. O senhor viu, falou com ele?
-Não, não percebi, estava tão absorto nas obras...
- Que pena...

Vi tudo que faltava ver.
No documentário, disse Oscar: "A arquitetura não é importante, importante é a vida, as pessoas". E sobre o trabalho: "Que se foda o trabalho". Ele, que aos 104 anos ainda trabalhava!

Vai, Oscar, vai brincar com as estrelas. Nós ficamos com a saudade.

* A grafia correta é Niemeyer

 
Perdemos o poeta das formas arquitetônicas
O escultor de edifícios

Vai para as estrelas, poeta
Saudades