- Os dias do carnaval de 2023 passei-os em Cabo Frio, na casa de uma sobrinha de minha mulher. Aos fundos da casa há uma piscina, que nem liguei, sequer levei sunga, mas aproveitei bem o carnaval lendo poesias de Neruda.
- No quintal das duas casas vizinhas alguma vegetação, dois ou três arbustos remanescentes da antiga flora de restinga, um pé de acerola, dois coqueiros e, mais além, uma mangueira. Nada que se possa chamar sequer de mini bosque.
- Ao anoitecer observava um bichinho que frequentava ou vivia no local: um gambá que ali se
- alimentava das frutinhas e, com certeza, dos restos orgânicos do lixo doméstico.
- Ao longo da vida tenho observado as mesmas cenas em outros locais: na casa da minha irmã, em Maricá, que ficava fechada por longos períodos, uma gambá penetrou na casa das bombas e lá teve os seus filhotes, levando-os na bolsa, quando surpreendida, para o baldio ao lado ainda com restos da flora original; em São Gonçalo, ao lado da casa da Yasmin, com apenas uma mangueira, é outro habitat desse bicho; e aqui em Marechal Hermes já fui visitado por um filhote de gambá em dia de chuva torrencial que o desalojou, juntamente com sua mãe, do imenso terreno da antiga Escola Técnica Mauá, agora FAETEC. Dos lugares citados, este é o que possui mais árvores, algumas frutíferas, e até resquícios da antiga mata local, ao fundo
- Minha percepção diz que este bicho é dotado de muita resistência e capacidade de adaptação, mas há percalços, no entanto. Em São Gonçalo o gato de Yasmin, com seu instinto de caçador, encurralou e matou um gambazinho. E aqui outro filhote morreu envenenado. Não por mim, é claro. Apesar de tentar alimentá-lo com folhas de alface e couve, apareceu certa manhã com a cauda ferida e já agonizante. Meu vizinho tem cachorro, o que explica o ferimento. E o pressuposto de ocorrência de ratos em seu lixo determinou o final infeliz.
- Quem se adapta sobrevive e o gambá é exemplo dessa máxima. Segue sobrevivendo entre homens e animais eventualmente hostis, pelo menos enquanto houver mangueiras, acerolas e lixo doméstico.
19 de jun. de 2024
Resiliência é isso
10 de abr. de 2024
Franguinha
9 de abr. de 2024
Malandro demais também se atrapalha
O marido de D. Maria era oficial de máquinas da Marinha Mercante, e nessa função ausentava-se em viagens longas e demoradas. Sozinha nessas ausências, Maria fechava portas e janelas de sua casa em bairro de Belém do Pará. De tal modo sentia-se mais segura.
Certa feita, notou que alguém cutucava, por fora, a parede junto à porta, mais ou menos na altura da fechadura. Quem quer que fosse, não tinha boas intenções, por óbvio. Pretendia abrir buraco, introduzir a mão e abrir o trinco, adentrando na casa, deduziu Maria.
Calmamente, sentou-se em cadeira frente à porta e esperou, facão na mão.
Terminada a violação e introduzida a mão, Maria desfechou-lhe um golpe. O malandro saiu correndo e sangrando.
Calmamente, Maria lavou o sangue derramado na calçadinha entre a porta e o portão.
17 de fev. de 2024
A mulher esperta e seu menino
Às seis da manhã, como de costume, fui à padaria comprar pão. Na volta topei com uma mulher, jovem ainda, com bebê ao colo. Viera de Ricardo de Albuquerque, na baixada fluminense, em busca de atendimento médico para o menino, que não evacuava há dias. Na UPA de Marechal Hermes não havia pediatra, em vista do que pedia ajuda para retornar a Ricardo. Pensei em dizer-lhe: já foi na Clínica da Família, do outro lado da ferrovia? Só pensei. Abri a carteira, tinha apenas uma nota de 20 reais. E no fundo do bolso algumas moedas que não davam uma passagem de ônibus.
Olhei então o menino. Não me pareceu doente: não apresentava sinais de dor ou choro, olhos muito vivos, rostinho de saúde, só faltava sorrir.
Antes que pensasse em trocar o dinheiro na padaria, disse-me a mulher:
— Se me der os 20 reais, será muito abençoado.
Dei.
E afastei-me com a sensação de ter sido, mais uma vez, enganado. Mas serei abençoado, embora já me sinta abençoado pela vida que tive até aqui. Benção, porém, nunca é demais. Aleluia!