14 de mar. de 2010

Vô Tônico indignado - 2


Desde as "Diretas já" que não saio de casa para assistir a comícios e outras manifestações públicas coletivas. Naquele tempo havia políticos e bandeiras que nos motivavam a sair às ruas; agora os políticos são pequenos e grandes os escândalos. Que saudades daquele tempo!
Contudo, me permito agora interromper o longo período de abstinência para comparecer ao movimento "Contra a covardia, em defesa do Rio", convocado pelo governador Sérgio Cabral. Não vou pelas lágrimas do governador, não vou pelo prefeito do Rio ou pela prefeita de Campos dos Goytacazes: irei pelo Rio de Janeiro e seus 16 milhões de habitantes.
Estou indignado!
Alegando uma pretensa justiça distributiva, a Câmara dos Deputados acaba de aprovar modificação na distribuição dos royalties do petróleo, deixando à míngua os estados e municípios produtores. Não se trata nem de descobrir um santo para cobrir outros; trata-se de decretar a falência de estados e municípios produtores! Onde está a justiça, senhor Ibsen Pinheiro, senhores deputados? Já não basta o ICMS do petróleo, cobrado nos estados consumidores ao invés de o ser nos estados produtores, como acontece com todos os outros produtos – uma aberração fiscal tramada no bojo da constituição de 88 pelos constituintes paulistas? O que têm contra o Rio de janeiro?
Ou por outra, qual a culpa do Rio de Janeiro? A de ter deixado de ser capital da República? A de ter engolido goela abaixo uma fusão de interesse político, imposta por um regime de força? Ou a de ter o seu litoral abençoado?
O que têm contra o Rio de Janeiro, repito? Inveja acumulada por séculos?
E os deputados cariocas que não estavam presentes na hora crucial da votação? Vamos continuar elegendo esses caras e essas caras? E o deputado presente que votou contra o Rio e depois se justificou, dizendo que o fez a pedido de seu tio pastor? Os interesses do tio foram mais importantes que os dos eleitores que lhe conferiram o mandato! Pulha!
Eu sei que meia dúzia de votos não modificaria o quadro final da votação. Eu sei, mas se votassem a favor do Rio estariam dignificando o mandato que o povo lhes deu. Sei também que o projeto ainda vai passar pelo Senado e pelo presidente, que pode vetar. Mas é inconcebível que tal insensatez tenha chegado aonde chegou.
Os royalties compensam eventuais impactos negativos com a exploração do petróleo e de outros bens minerais. Na cidade do Rio de Janeiro tivemos um exemplo disso quando a baía de Guanabara ficou repleta de óleo vazado de um petroleiro; Campos e Macaé, além de outros municípios, há muito sofrem o impacto da presença das petroleiras. Será que os senhores deputados não viram isso? Será que não entendem o que são os royalties? A seguirmos a lógica dos senhores deputados, temos de fazer o mesmo com a exploração de outros recursos, como os minérios, por exemplo. E foi o que disse o senhor vice-presidente, o único que tocou no assunto, em passagem pelo Rio, tentando minorar a burrada feita em Brasília. Pergunte o senhor vice-presidente ao seu conterrâneo – governador de Minas – o que acha disso. Pergunte à governadora do Pará. Me desculpe senhor vice-presidente, simpatizo com o senhor, mas a sua fala não resolve a questão, apenas chama a atenção sobre ela. Minas Gerais e o Pará necessitam dos royalties do minério pelo impacto ambiental e social que sofrem, assim como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo pelo impacto do petróleo.
Gostaria de ouvir o que tem a dizer o governador de São Paulo e possível candidato à presidência da República, pois que o pré-sal vai até o litoral de Santa Catarina, sendo São Paulo um dos prejudicados, senão agora, no futuro. Fala, Serra! Falem Aécio e Júlia Carepa sobre o que acham do projeto aprovado na Câmara e da fala do vice-presidente. Não fiquem atrás do muro!
Não sou ingênuo, porém, embora pareça em virtude dos temas que abordo neste espaço. Sei que existem interesses e jogo político por trás disso, já que estamos num ano eleitoral. Sei que a grande maioria dos senhores deputados viu neste projeto absurdo uma ótima oportunidade para fazer demagogia com o seu eleitorado e financiadores de campanha. Eu mesmo vi pela televisão o senhor presidente da Câmara refestelado numa poltrona tomando cafezinho, aparentemente satisfeito com o resultado da votação. Era para estar angustiado, se decente fosse. Mas o que quer é demonstrar alto cacife político, dele e do partido, para pleitear a vaga de candidato a vice-presidente e/ou barganhar cada vez mais cargos no governo. Este senhor deve pensar que o eleitor é idiota e não percebe seus movimentos políticos.
Demagogia, empulhação, é o que é este projeto dos senhores deputados, que se já não fosse absurdo, injusto ou covarde, como diz o governador, seria uma tremenda palhaçada! Mas eu fico com os circos de verdade, com os palhaços autênticos, os malabaristas e ilusionistas idem.
Ai, que saudades do Arrelia e do Carequinha!
Quarta-feira, na Candelária, a partir das 16 horas, contra a covardia e em defesa do Rio. Sigam-me os bons!

4 comentários:

Teresa disse...

É! É realmente para ficar indignado e preocupado!
Este ano é propício às farsas e facécias políticas!
Infelizmente não poderei acompanhá-lo na passeata de quarta-feira, pois estarei trabalhando. Mas leve consigo a minha força...
Um grande abraço!
Teresa Ventura

Teresa disse...

Estou repassando seu texto para amigos e parentes!
Beijos!

Rodrigo Ventura disse...

É isso ae, tio
Mostra pra eles!

Unknown disse...

Querido Amigo,
Li todas as tuas crônicas e fiquei muito feliz em constatar que a lucidez, típica das pessoas inteligentes, está presente nas tuas produções.
O Rio de Janeiro está pagando por sua irreverência e anos de alienação. Quem sabe sentindo na pele, percebamos que a despreocupação com a ética acaba, uma hora ou outra, nos prejudicando. Está na hora do "FORA MOLUSCO" e toda a sua corja.
Forte Abraço
Robson Anubis

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