Chove.
Cai a temperatura.
Em dias como este o melhor mesmo é ficar em casa a comer o ganhado, como diziam os antigos, e na minha circunstância de aposentado não há dito mais exato.
Assim, a leitura de um bom livro é sempre um cardápio adequado a esse tempo recolhido, para ser degustado no sofá, enrodilhado o leitor num edredom. Outra opção é assistir a um clássico em DVD. Ou então dar tratos à bola e escrever...
Escrevo.
Nos últimos tempos tenho ouvido, nestas minhas plagas suburbanas, pessoas mais novas dizerem Saens Pena ao se referirem a Sáens Peña, a famosa praça tijucana. No meu tempo de moço não havia dúvida: a pronúncia era Penha. Ao que parece uma boa parte da população hoje não entende aquele til (~) acima do ene (n). Nem é para menos: tal notação gráfica (ñ) não existe no idioma português. O nome do logradouro é uma homenagem aos ex-presidentes argentinos Luís e Roque Sáens Peña, portanto nomes próprios do idioma espanhol.
Nem se pode dizer que tal ignorância é resultado da má qualidade do ensino em nosso país: o espanhol nunca fez parte da grade curricular do ensino fundamental de agora, como também não o era no antigo primário do meu tempo.
Nós, a nosso tempo, também desconhecíamos aquele estranho e indecifrável ñ.
Como então aprendemos a decifrá-lo? Simples. As professorinhas de então, já antes que perguntássemos, desvendavam para nós o mistério. É que elas, quase todas, vinham da Tijuca, àquela época o bairro preferido da classe média ascendente e pródigo celeiro de professorinhas. Na condição de tijucanas, mesmo não sendo versadas em espanhol, sabiam perfeitamente a pronúncia correta do nome de sua principal praça, com certeza orgulho de todas elas.
E agora, o que acontece?
As professorinhas não vêm mais da Tijuca?
E as professoras das professorinhas, não vêm mais da Tijuca?
As professorinhas de hoje vêm de todos os lugares (o que é bom) e a profissão de professor proletarizou-se, não tem o mesmo prestígio de outrora, nem a Tijuca permanece o que foi.
Seja o que for, vamos torcer para que um jovem repórter da TV não venha a dizer Saens Pena e a Tijuca, que já perdeu tanto do seu antigo glamour, não venha a perder também a pronúncia histórica do nome de sua praça.
Abril de 2010
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