1 de ago. de 2010

Trabalho e dignidade


Dizem que o trabalho dignifica o homem; eu sempre acreditei nisso e continuo acreditando.
Vou contar-lhes uma história, em resumidas linhas, uma história de trabalho e dignidade. Li-a em alguma publicação que não lembro mais e recentemente relembrei-a assistindo na TV por assinatura ao filme de Geraldo Sarno, de 1978, estrelado por Rubens de Falco: Coronel Delmiro Gouveia.
Não era um "coronel" daqueles da oligarquia nordestina, vinha de baixo e trabalhou muito. Enriqueceu. Pode-se dizer que foi um representante do que se costuma designar por self made man. E pensava grande. Elaborou um plano para construir uma hidrelétrica no rio São Francisco, na altura das cachoeiras de Paulo Afonso, com a qual pretendia eletrificar Pernambuco. Os políticos, que já tinham um pé atrás, desconfiaram de tão ambicioso plano e não lhe deram apoio. Delmiro construiu então uma pequena hidrelétrica, a qual abastecia a fábrica de linhas e a vila operária correspondente, obras suas também. O produto, de ótima qualidade e mais barato que o importado da Inglaterra (linhas Corrente), conquistou o mercado brasileiro e parte da América Latina. Após a guerra, os ingleses mandaram emissários propor sociedade ou a compra da fábrica. Delmiro não cedeu. Morreu a tiros – um assassinato cuja autoria jamais foi esclarecida! Anos mais tarde, seus herdeiros venderam a fábrica aos ingleses, que mandaram destruí-la a marretadas e jogar seus destroços no São Francisco.
A biografia de Delmiro é uma saga de trabalho e realizações e também de responsabilidade social. E por isso mesmo, de perseguições políticas. Ele viveu fora de sua época. Não tenho, porém, a pretensão de contar aqui a sua história. Quem se interessar, procure o filme de Geraldo Sarno.
Quero sim, contar uma história singela, mas emblemática, a ele atribuída e com certeza verdadeira.
Um sertanejo pediu ajuda a Delmiro: queria um emprego. O coronel não tinha vaga para lhe oferecer, mas não o desamparou. Deu-lhe um emprego. O trabalho consistia em juntar todas as pedras encontradas em suas terras, em pequenos montes, para uso posterior; em suma, limpar a fazenda. Delmiro inventara esse "trabalho" para ajudar o sertanejo. Não lhe deu esmola, que avilta, mas trabalho, que dignifica!
O exemplo de Delmiro anda esquecido, mas bem que poderia ser reabilitado. O que fazer neste Brasil é que não falta. E nem precisa recorrer ao expediente extremo de Delmiro. Mas dar esmola é mais fácil e proveitoso!

 
Agosto de 2010

1 comentários:

Don Severo disse...

Que bela Cronica, meu poeta! Parabéns! Isso que são Cacos da memoria.

Abraço,

Severino Honorato.

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