19 de mai. de 2011

Uma historinha infantil para adultos – parte 2


(leia primeiro a parte 1, abaixo)
E assim, em sua busca, o rapaz viu muitas coisas e conheceu muita gente. Nunca se interessou por alguém ou por coisa alguma. Nunca aprendeu um ofício nem se ocupou em qualquer atividade prolongada. Durante a estação seca executava alguns trabalhos, curtos, para prover o pão de cada dia e o farnel necessário à estação chuvosa, quando ia atrás do arco-íris. Às vezes acontecia uma chuva imprevista, mesmo na estação seca, e lá ia o rapazola, abandonando tudo em que estivesse empenhado. Nunca criou raízes. Sua vida resumia-se ao grande sonho: encontrar o tesouro do arco-íris. E não era mais um rapazola, mas um homem maduro, já grisalhando cabelos e barba.
Mas o arco-íris parecia brincar com ele! De esconde-esconde. Tinha essa sensação principalmente na estação das chuvas, quando fica muito nítida a localização do arco-íris. Escalada a montanha por trás da qual se escondia, já o arco-íres fugia para a montanha seguinte. E quando esta era vencida, já não estava lá, mas na outra, mais além... E podia acontecer também que, ao chegar ao pico de uma montanha, o homem constatasse que o arco-íris fugira em sentido oposto ao seu, acarretando perda de tempo e redobrado esforço. Mas o homem perseverava como ninguém. Nunca desistia. E escalou montanhas e atravessou vales sem conta. E nessa vida de procura se perdeu...
E já não era um homem maduro, mas um velho cuja branca barba ia além da cintura. Cansado e doente, abrigando-se em tapera que encontrara à beira do caminho, não tinha mais forças nem ânimo para prosseguir naquela loucura...
Então caiu uma chuva finíssima e o arco-íris despontou por trás do morro, nítido como nunca, brilhante! E a mente do velho iluminou-se! E o antigo sonho percorreu-lhe as veias e incendiou-lhe o corpo! E lá se foi o velho, morro acima.
Nunca fora tão fácil! Nem montanha era, apenas um morrinho de nada... Mas chegado ao topo, o velho constatou mais uma vez o que já conhecia de sobra: o arco-íris brilhava por trás do morro seguinte. O fogo que o animava arrefeceu, a canseira dominou-o de vez. Deitou-se na relva. Adormeceu.

(epílogo no próximo post)

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