Contam que surgiu do nada, próximo a uma fonte nas matas de Petrópolis, nos primeiros anos da década de 1950. Foi acolhida por família em modestíssima casa de pau-a-pique nas imediações da fonte, onde se abasteciam.
Ouvindo o relato, pensei na minha mãe e nas histórias que ela contava, da Moura Torta e das princesas mouras encantadas, as quais costumavam aparecer nas fontes de águas cristalinas.
Mas aquela estranha criatura, vinda do nada, não era moura nem princesa. Descalça, vestia-se de preto quase cinza, tão desbotado estava. Seus cabelos, fartos, compridos e já embranquecendo, avançavam para os lados, desgrenhados, como se nunca houvessem conhecido pente ou água e sabão. Essa cabeleira era, por assim dizer, sua marca, sua identidade. E do nada trouxera um dom especial e muito apreciado: o de predizer o futuro. Quando tal fato se espalhou, formaram-se filas de consulentes ansiosos por bisbilhotar o futuro com perguntas as mais triviais e outras nem tanto:
— A minha vizinha fofoqueira vai parar de me apoquentar?
— Ficarei curada do meu câncer de mama?
A toda pergunta dava resposta. Uma mulher trintona lhe perguntou:
— Terei filhos?
— Terá seus filhos, mas antes troque de marido, ou então entre na fila de adoção.
— Ora, onde já se viu?! Trocar de marido? Isto é coisa séria, não vim aqui para ouvir piadas.
Alguma paga? Não. A muito custo a estranha que veio do nada aceitava um agrado, uma fruta, uma flor singela, uma bijuteria barata. De uma senhora recusou um bonito lenço de cabeça, de outra, um pente. Não precisava de lenço para cingir-lhe os cabelos nem pente para penteá-los. Estava satisfeita com o seu visual, principalmente o dos cabelos.
E depois de muitas e muitas perguntas e respostas, as filas se extinguiram e novos consulentes já rareavam. Então a criatura que surgiu do nada, ao nada retornou. E nunca mais foi vista ou sequer dela se teve notícias.
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