17 de fev. de 2024

A mulher esperta e seu menino

           Às seis da manhã, como de costume, fui à padaria comprar pão. Na volta topei com uma mulher, jovem ainda, com bebê ao colo. Viera de Ricardo de Albuquerque, na baixada fluminense, em busca de atendimento médico para o menino, que não evacuava há dias. Na UPA de Marechal Hermes não havia pediatra, em vista do que pedia ajuda para retornar a Ricardo. Pensei em dizer-lhe: já foi na Clínica da Família, do outro lado da ferrovia? Só pensei. Abri a carteira, tinha apenas uma nota de 20 reais. E no fundo do bolso algumas moedas que não davam uma passagem de ônibus.

          Olhei então o menino. Não me pareceu doente: não apresentava sinais de dor ou choro, olhos muito vivos, rostinho de saúde, só faltava sorrir.

          Antes que pensasse em trocar o dinheiro na padaria, disse-me a mulher: 

          — Se me der os 20 reais, será muito abençoado.

          Dei.

          E afastei-me com a sensação de ter sido, mais uma vez, enganado. Mas serei abençoado, embora já me sinta abençoado pela vida que tive até aqui. Benção, porém, nunca é demais. Aleluia!