13 de abr. de 2015

Bookcrossing Blogueiro–3

Descendo da prateleira
Escrevi Cacos da memória entre 2006 e 2008, a partir de um evento ocorrido na cidade de Cunha – SP, que abre o livro sob o título de “A menina do guarda-chuva e os meus sapatos de verniz”, por ocasião de visita a um amigo de longa data, mas de há muito desgarrado da minha vida.
Ao escrevê-lo descobri que gostava de escrever; e o que era para ser meia dúzia de pequenas histórias virou um livro com mais de cem fragmentos da memória; e no conjunto uma crônica da minha família naquele período de dez anos.
E também descobri, ou redescobri, a aldeia da minha infância, longe no espaço e no tempo e quase apagada da minha memória. Visitei seus lugares (os meus lugares), seus habitantes e suas histórias. E aquela aldeia – Minas do Palhal – renasceu em mim.
Pude notar, enquanto escrevia e, principalmente, ao fim da tarefa, uma aproximação afetiva com o lugar e seus habitantes. A aldeia, que nos primeiros textos eu designei por “um lugar como aquele”, ao meio do livro designava por seu próprio nome e ao fim já era a “minha aldeia”.




Um amigo virtual português, Nuno Jesus, ao ler “Cacos da memória” derramou-se em elogios. Não compreendi bem o seu entusiasmo.
Nuno é diletante e pesquisador da etnografia daquela região em que se insere a minha aldeia; e autor, juntamente com a historiadora Nélia Oliveira, do livro “Ribeira de Fráguas – sua história”. Nuno enviou-me o ficheiro com a diagramação de outro livro seu, este em coautoria com Emília Campos e Vera Marques: “Telhadela – perspectiva histórica e etnográfica”. Ao ler o trabalho, lindamente ilustrado com fotografias de época, compreendi o entusiasmo de Nuno com o meu livro e também o significado da palavra etnografia, desconhecido para mim àquela altura. É que de certa maneira eu também fiz etnografia em Cacos da memória - sem o saber, porém, e portanto sem o compromisso e o rigor da ciência. Fiz etnografia contando histórias. Talvez por isso agradável de ler, segundo depoimentos vários.

Este é o livro, entre outros, que desço da prateleira para iniciar a aventura do bookcrossing blogueiro, iniciativa do blog Luz de Luma, yes party!, da minha amiga Luma Rosa.
Boa viagem, amigos.


1 - Viajante: Cacos da memória, de João Antonio Ventura
      Início da viagem: 13/04/2015

2 - Viajante: Poemas, de Fernando Pessoa
      Início da viagem: 21/04/2015

3 - Viajante: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
      Início da viagem: 05/05/2015

4 - Viajante: Esaú e Jacó, de Machado de Assis
      Início da viagem: 27/07/2015

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12 de fev. de 2015

O valor de uma noiva

Apesar de grande leitor de jornais durante a minha juventude e maturidade, ultimamente quase não os leio. Compro um exemplar, vez por outra, quando encontro uma manchete que me chama a atenção.
Em O Globo de 12/11/2014, pág. 27, encontrei uma história interessante, sob o título “Coração partido”. Na China, no dia 11/11, comemora-se o Dia dos solteiros. É o dia de multiplicar esforços para conseguir um par definitivo, o dia de contratar um casamento. Um jovem chinês, que economizara durante mais de dois anos, resolveu inovar em sua proposta de casamento à namorada, comprando 99 celulares de última geração pelo equivalente a 79 mil dólares. Comprou flores e dispôs os aparelhos, ainda nas caixas, formando um grande coração no piso da praça, reuniu os amigos à volta e pediu que filmassem tudo do alto de um edifício. Chamou a namorada para o centro do coração grande e fez o pedido apaixonado. Recebeu um retumbante NÃO! Virou caçoada na Internet!
Só para lembrar, caríssimos amigos; a China vem aplicando, desde os anos 80, uma política de controle da natalidade conhecida por “política do filho único”, o que está levando a um desequilíbrio demográfico de gênero: no censo de 2.000 constatou-se o nascimento de 119 meninos para cada 100 meninas. E esta tendência só deve agravar-se! As famílias estão praticando o aborto seletivo contra os fetos femininos, quando não infanticídio, abandono nas ruas e orfanatos públicos - que nada mais são que precários depósitos de crianças. Um horror!
E esse descaso com a mulher não é só na China: também na Índia e em outros países do Oriente Médio.
Nessas regiões (e não só), a discriminação, o preconceito, a violência e a negligência contra meninas e mulheres são o traço comum e forte de sociedades patriarcais conservadoras – traço comum e forte oriundo de sociedades medievais, e de mais além, já perdidas no passado, mas ainda presentes em culturas  atuais, em graus maiores ou menores, onde a mulher “tem pouca serventia” na família.
Ah!, meus caros, se mais não digo é por não afligir meu coração! Mas as mídias nos trazem constantemente relatos dessas atrocidades mundo afora!
A mulher tem sim, toda “serventia” na família, no mundo, no universo! A mulher é parceira, cúmplice e sócia majoritária no mistério da vida! E ainda lava louça!…
Mas voltemos à história do jovem chinês que recebeu um retumbante NÃO!
É cada vez mais difícil encontrar uma noiva, uma esposa. E algumas famílias chinesas já importam noivas para seus filhos! Não é de estranhar, portanto, o esforço inusitado e frustrado do jovem chinês. A continuar essa tendência (e continuará), talvez a mulher se valorize pela escassez, no âmbito das velhas e boas leis de mercado: oferta e procura. Por linhas tortas, quem sabe, se endireita a escrita sobre a mulher oriental. Se assim for, aleluia!
Desculpem a analogia com o mercado: a mulher não é mercadoria.
E convenhamos, caríssimos, acho que fez bem a noivinha chinesa não aceitando atrelar sua vida à de um cara tão falto de imaginação! Tanta coisa para ofertar, além de seu amor: sapatos, bolsas, relógios e jóias, mesmo que bijuterias de qualidade, perfumes e cosméticos, doces, que chineses são sempre magrinhos… Vá lá, um ou outro ícone tecnológico… mas 99 celulares! Um refinado idiota!

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Obs: não deixe de ler o comentário de Luma Rosa, abaixo, clicando em comentários.

2 de fev. de 2015

Galo, galinha e pinto em família

O autor apresentando "Galo, galinha e pinto...", de costas para o galinheiro.






Em 25/12/2014, no já tradicional encontro de família, a apresentação de "Galo, galinha e pinto e outras histórias"
Havia vários cartazes alertando para a "ferocidade" do galo. 


O grilo cantor/Deir. Esqueceu o texto, mas saiu-se muito bem no improviso.



Abelhuda/Teresa, em atuação pra lá de convincente.




A menina ouvinte/Yasmin, atuando no contraponto ao contador.



Fim da apresentação. Olha que bailarina mais linda!

Autografando.

PC e Mário na fila de autógrafos.




Tavinho



Pedro e a bailarina da apresentação - Rafaela.


Ana Paula
Futuro leitor - Gabriel.



Acho que o galo, bem atrás de mim, não gostou de tanto palavrório e resolveu atrapalhar a apresentação. Pudera! - estávamos falando da família dele e sequer o convidamos para a festa. Veja no link.
Link>>>>>>>Galo, galinha e pinto e outras histórias


 Agradeço a presença de todos, principalmente das crianças, e àqueles que participaram atuando, fotografando ou filmando. Beijos, meus queridos!


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30 de jan. de 2015

Um ar que me deu

Após longo e tenebroso inverno estou de volta ao teclado. E começo pedindo desculpas pelo lugar-comum inadequado, já que estamos sob um verão abrasador. Foi um jeito torto de começar um texto não menos torto. Desculpem, queridos, pela longa ausência.
Não sei o que me deu!
Andei adoentado nos últimos tempos. Não AVC ou coisa parecida, nem resfriado, nem gripe. Simplesmente perdi a vontade de escrever! Muitos assuntos, muitas questões, talvez demais,, mas vontade de escrever não havia. Há seis meses quase não escrevo. Escrevi apenas o essencial: minha participação no Bookcrossing Blogueiro, alguns posts sobre “Galo, galinha e pinto…” e uma crônica sobre viagem a Santa Catarina. Inapetência literária…
Minha amiga Jussara Neves Rezende deixou, há pouco, um comentário num texto que escrevi por ocasião da eleição presidencial de 2010. Dizia ela, já adivinhando o meu estado d’alma, que é normal o desânimo após um intenso período de atividade intelectual e artística (a edição de “Galo, galinha e pinto…”). A adrenalina baixa, o desânimo vem. Faz sentido, mas creio que não basta como explicação. Há mais coisas, com certeza.
Assisti a uma entrevista do Ferreira Gullar ao jornalista Roberto D’Ávila. Pergunta do jornalista: Qual a fonte de sua inspiração? Resposta de Gullar: O espanto. O poeta se espanta com determinada questão e, nesse envolvimento espantado, nesse estado de perplexidade, escreve.
Espantado estou sim, mas não é um espanto específico, é geral e difuso como a névoa das manhãs frias,  nada do espanto inspirador do poeta. Muito pelo contrário, é paralisante. E a bem dizer, nem espanto é, mas desencanto. E não só com o Brasil. Na minha caminhada, nunca me pareceu tão aterrador o mundo!
Confesso que me deixei apanhar pela brisa; não a brisa fresca das manhãs, nem a quente deste verão escaldante; mas a brisa virtual da internet – envenenada e virulenta! – durante a campanha eleitoral. Muito trololó, muito lixo e baixaria! E deixei-me levar… E nenhuma vontade de escrever… Nem mesmo no meu “Sutil como um elefante”, espaço onde me sinto mais à vontade para temas polêmicos ou desagregadores.
Não sei o que me deu!
Lá bem atrás, na aldeia da minha infância, quando uma pessoa idosa sofria um derrame – AVC ou coisa que o valha –, ficando em geral com um lado do corpo afetado, ou a face repuxada e a boca torta, as outras pessoas, ignorando a doença, sua origem e natureza, costumavam dizer acerca das causas: “foi um ar que lhe deu”. O ar, que nos mantém vivos e pode muito bem explicar um resfriado ou uma gripe, era causa certa de males desconhecidos. Quando não eram as bruxas!
Pois bem, meus queridos, como não creio em bruxas ( pero que las hay, las hay!) e na falta de melhor diagnóstico para o mal que me acometeu, digo, como diziam os antigos da minha aldeia: foi um ar que me deu.
Estou convalescendo, porém. No período comentado não estive totalmente inerte: fiz as ilustrações do livrinho infantil da minha amiga Adriana Kairos e li três livros. Domingo irei ao CCBB ver a exposição de Kandinski.
E obrigado, Jussara, pelo toque. Escrever é preciso.

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