30 de jan. de 2015

Um ar que me deu

Após longo e tenebroso inverno estou de volta ao teclado. E começo pedindo desculpas pelo lugar-comum inadequado, já que estamos sob um verão abrasador. Foi um jeito torto de começar um texto não menos torto. Desculpem, queridos, pela longa ausência.
Não sei o que me deu!
Andei adoentado nos últimos tempos. Não AVC ou coisa parecida, nem resfriado, nem gripe. Simplesmente perdi a vontade de escrever! Muitos assuntos, muitas questões, talvez demais,, mas vontade de escrever não havia. Há seis meses quase não escrevo. Escrevi apenas o essencial: minha participação no Bookcrossing Blogueiro, alguns posts sobre “Galo, galinha e pinto…” e uma crônica sobre viagem a Santa Catarina. Inapetência literária…
Minha amiga Jussara Neves Rezende deixou, há pouco, um comentário num texto que escrevi por ocasião da eleição presidencial de 2010. Dizia ela, já adivinhando o meu estado d’alma, que é normal o desânimo após um intenso período de atividade intelectual e artística (a edição de “Galo, galinha e pinto…”). A adrenalina baixa, o desânimo vem. Faz sentido, mas creio que não basta como explicação. Há mais coisas, com certeza.
Assisti a uma entrevista do Ferreira Gullar ao jornalista Roberto D’Ávila. Pergunta do jornalista: Qual a fonte de sua inspiração? Resposta de Gullar: O espanto. O poeta se espanta com determinada questão e, nesse envolvimento espantado, nesse estado de perplexidade, escreve.
Espantado estou sim, mas não é um espanto específico, é geral e difuso como a névoa das manhãs frias,  nada do espanto inspirador do poeta. Muito pelo contrário, é paralisante. E a bem dizer, nem espanto é, mas desencanto. E não só com o Brasil. Na minha caminhada, nunca me pareceu tão aterrador o mundo!
Confesso que me deixei apanhar pela brisa; não a brisa fresca das manhãs, nem a quente deste verão escaldante; mas a brisa virtual da internet – envenenada e virulenta! – durante a campanha eleitoral. Muito trololó, muito lixo e baixaria! E deixei-me levar… E nenhuma vontade de escrever… Nem mesmo no meu “Sutil como um elefante”, espaço onde me sinto mais à vontade para temas polêmicos ou desagregadores.
Não sei o que me deu!
Lá bem atrás, na aldeia da minha infância, quando uma pessoa idosa sofria um derrame – AVC ou coisa que o valha –, ficando em geral com um lado do corpo afetado, ou a face repuxada e a boca torta, as outras pessoas, ignorando a doença, sua origem e natureza, costumavam dizer acerca das causas: “foi um ar que lhe deu”. O ar, que nos mantém vivos e pode muito bem explicar um resfriado ou uma gripe, era causa certa de males desconhecidos. Quando não eram as bruxas!
Pois bem, meus queridos, como não creio em bruxas ( pero que las hay, las hay!) e na falta de melhor diagnóstico para o mal que me acometeu, digo, como diziam os antigos da minha aldeia: foi um ar que me deu.
Estou convalescendo, porém. No período comentado não estive totalmente inerte: fiz as ilustrações do livrinho infantil da minha amiga Adriana Kairos e li três livros. Domingo irei ao CCBB ver a exposição de Kandinski.
E obrigado, Jussara, pelo toque. Escrever é preciso.

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Me faça esse carinho

4 comentários:

chica disse...

Que bom que a Jussara te deu o toque. E que esse ar que passou se vá e traga outro, da vontade de escrever e compartilhar por aqui! Te esperamos! abraços,chica

Nuno Jesus disse...

Força companheiro, que não lhe dê "um outro ar", mas sim que continue a usufruir do ar por muitos, saudáveis e profícuos anos. Abraço.

Luma Rosa disse...

Oi, João!
Explicou bem os motivos da falta de inspiração. Todos os dias temos uma sobrecarga de notícias ruins que não nos deixam abstrair. Além do mais, as férias propiciam a casa movimentada e o escritor precisa de silêncio. Quando falamos muito, esquecemos de escrever!
Que bom que voltou!! Seja bem-vindo novamente!
Beijus,

Toninho disse...

É isso aí meu amigo, lembro dos comentários de ar mal vindo lá nas minhas Minas.
Às vezes temos esta apatia, este desencanto, mas que devemos é certo superar.
Escrever é preciso, como cantar e deixar o espirito livre.
Desde que entendo as coisas elas já não me causam tanto espanto. A vida hoje é corrida os dias parecem voadores ousados e as vezes nos perdemos nesta rotação.
Mas voltar é preciso e assim seja bem vindo ao mundo encantado das palavras.
Uma linda semana de paz e luz.
Um abração.

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