16 de nov. de 2012

Protestar é preciso!


Falando em solidariedade, quero hipotecar a minha ao povo europeu, muito especialmente ao povo português, pela crise econômica que está passando – talvez a mais grave que há enfrentado em sua história recente.
Nessas ocasiões, apertar o cinto é necessário, não tem outro jeito, fazemos isso em nossa microeconomia doméstica – na macro é a mesma coisa.
Mas Portugal já fez a sua parte, ordeiramente e a duras penas – já cortou gastos e aumentou impostos.
E agora vêm com mais arrocho? Querem a fivela no último furo? Querem matar o paciente com o remédio?
O aperto do cinto tem limites! Fazem bem em protestar nas ruas!
Avante, portugueses! Botem a boca no trombone!

15 de nov. de 2012

Bonitinha mas ordinária


O nome da peça é Otto Lara Resende ou Bonitinha mas ordinária, obra-prima de Nelson Rodrigues. A trama se desenvolve em torno do mote "O mineiro só é solidário no câncer" – frase do escritor mineiro que encabeça o título da obra.
Eu já a tinha visto no cinema, com a Lucélia Santos ainda quase adolescente, mas confesso que não me lembrava da trama – uma história de suborno, canalhices e interesses inconfessáveis travestidos de boas intenções. A frase lapidar do Otto nos diz que o mineiro (ou qualquer pessoa esperta, sagaz e calhorda) – a não ser no câncer – tem sempre um interesse ou segunda intenção por trás da atitude aparente de solidariedade.
Podemos considerar algum exagero na frase, que ao tempo de Otto e Nelson e no contexto da peça, era aplicada às elites; mas se pensarmos nos dias de hoje, criticamente, veremos que qualquer possível exagero se esvai e que já não pode ser aplicada somente às elites. No dizer de Eduardo Votzk, diretor da montagem teatral em questão, "O Brasil está cada dia mais rodriguiano". O mineiro que só é solidário no câncer pode ser o seu vizinho, a pessoa caminhando ao seu lado na rua, o policial lanchando na padaria, a ONG cuidando de criancinhas de rua, o burocrata que põe barreiras ao seu pleito, o prefeito que manda consertar as calçadas do seu bairro, o governador que chora frente às câmeras... E mais não digo, porque você já sabe.

 
A propósito, assisti à peça recentemente, no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes. O teatro tem oferecido programação (infantil e adulta) nos finais de semana, quase ininterruptamente. Começou em setembro. Pensei: são bondades de ano eleitoral; após a votação fica tudo como estava.
Creio que me enganei – a programação continua!
A nova fase do teatro coincide com a mudança em sua direção. Pensei novamente: por que o governo nada fez desde que assumiu, há seis anos e só veio fazer agora? Resposta: porque quer eleger o seu sucessor em 2014.
O mineiro só é solidário no câncer!
Viva Otto! Viva Nelson!

O resgate que faltava


Fala-se muito em resgatar. Resgatar-se isto e aquilo. Nos últimos oito ou dez anos resgatou-se a autoestima do povo brasileiro. Pelo menos é o que diz o nosso Lula: "Nunca antes nesse país...". Por último resgatou-se a autoestima dos cariocas. Será? No que me diz respeito, nunca antes me senti tão naufragado; não no mar da minha vida pessoal, que vai bem, obrigado, mas em outros mares...
Mas deixemos de lero-lero para falar de outro resgate, que ouço com insistência na mídia dos últimos dias: o resgate do transporte ferroviário de passageiros.
Além do trem-bala Rio-São Paulo-Campinas, a joia da coroa dos projetos ferroviários, fala-se em interligar cidades próximas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste. Nada mais racional e necessário! Depois de meio século de abandono, sucateamento e extinção de ramais, o único trem regular de passageiros existente hoje é o que trafega semanalmente nos trilhos da Vitória-Minas, ainda assim por força de cláusula contratual na privatização da Vale.
Torço para que este resgate se efetive realmente e não seja apenas um discurso. Quero eu mesmo ir a São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, etc. de TREM!
Por enquanto é só discurso, mas é bom que se fale, para criar massa crítica e tirar os projetos do papel.
Foi preciso entupir de veículos as ruas e estradas, para que se volte a falar na ferrovia como opção de transporte.
Chega de alargar ruas e estreitar calçadas!
Vamos em frente... de trem!

8 de nov. de 2012

OS ABUTRES ESTÃO DE VOLTA


Um deputado da base parlamentar do governo diz que a nova lei dos royalties do petróleo é justa e igualitária para o povo brasileiro.
Vejamos.
É justo distribuir igualmente os recursos provenientes do pré-sal? É. O que não é justo é distribuir os recursos dos campos já licitados, em operação, e cujas receitas já estão comprometidas no orçamento do Estado. Isto é decretar a falência do Rio de Janeiro e do Espírito Santo! Isto é quebra de contrato, gerando insegurança jurídica, tudo o que o país não precisa neste momento.
Mas os abutres não podem esperar os recursos dos novos campos, que ainda demoram: querem a carniça que já exala!
Para a justiça ser completa, deviam suas excelências fazer o mesmo com o minério de Minas Gerais e do Pará, além de outros recursos minerais espalhados pelo território nacional. Isso seria cortar na própria carne – mas pimenta nos olhos dos outros é refresco!
Suas excelências fingem esquecer que na constituição de 1988 foi concertado um regime diferenciado de ICMS para o petróleo e a energia elétrica; por tal acordo, o imposto é cobrado nos Estados consumidores e não nos produtores – como nos demais produtos. Por isto mesmo foram criadas, na mesma oportunidade, as participações especiais (além dos royalties) com o objetivo de compensar a garfada nos Estados produtores.
Para ser justo e igualitário realmente, suas excelências deveriam promover uma ampla reforma tributária, acertando todas essas questões. Mas é mais fácil fazer demagogia!
Chegando ao requinte, suas excelências cortaram do projeto a vinculação dos recursos a serem distribuídos, à educação, como queria o governo. Querem o butim livre de quaisquer condicionantes! Por que será, heim?
E a presidenta Dilma não vetará (como fez o Lula), para não desagradar a base, tendo em vista as eleições presidenciais de 2014.
E agora, Cabral? Quem poderá nos defender?

 
(O Chapolin Colorado não tem jurisdição no Brasil – só nos resta o Supremo Tribunal Federal)