A realidade do reality
Autora:
Luciana Pitanga
Assistente
de faturamento. Ensino Médio Completo. Publicações no site Recanto das Letras
(até o momento): Espelho, Vendaval e É tempo!
Publicado
na antologia VOZES, coordenada por Adriana Kairos do projeto ALEPA – A
Literatura dos Espaços Populares Agora.

O grande problema é que as pessoas dão
atenção demais para esses novos “gente fina” e não enxergam que os realitys
estão bem distantes da nossa realidade. Será que alguém consegue imaginar um
reality bem real? Que tal colocarmos uma câmera na roupa surrada do pai ou da
mãe de família que sai de casa ainda de madrugada e tem de enfrentar vários
desafios até chegar ao seu trabalho, como o trem, ou o ônibus, ou o metrô
lotados. Tomar muito cuidado para não ser assaltado. Superar o nervosismo do
engarrafamento. Legal, né! Cheio de emoções. O grande vencedor é aquele que
consegue superar esses transtornos e muito mais. O grande vencedor leva o
salário, a comida na mesa e garante mais um mês de emprego. Show! Isso sim é um
Reality Show, assim mesmo com as iniciais em maiúsculo. Mas tenho a impressão
de que não faria muito sucesso. A cara da pobreza não fotografa bem. Pode até
ser que saia um discurso inflamado seguido da mudança do canal de TV indigesto
que veio nos esbofetear com imagens tão duras. É...bom, voltando ao ônibus que
me trouxe para casa, pois bem, entrou um homem vendendo aquelas gominhas de
menta que aliviam a garganta e combatem a rouquidão. Apesar dos fones em meus
ouvidos pude apreciar a propaganda do produto simples e atrativo, mas o que
sempre me chama a atenção é o apelo desses vendedores. Pedem para aqueles que
sentirem no coração que devem ajudá-lo que o ajudem. Eu devo ser mesmo coração
de manteiga, pois sempre compro, mesmo que o produto não tenha serventia para
mim. Gente, é o apelo de um trabalhador querendo levar o pão de cada dia para
sua família! Ele está certo, poderia estar matando, roubando, ou participando
de um reality qualquer...
Vocês devem estar se perguntando por que não
termino os benditos parágrafos com um ponto final, mas sim com três pontos como
se tivesse algo mais a dizer? Porque não tem fim mesmo. Enquanto o homem vendia
suas balas no ônibus, passava o rapaz descalço na calçada, alguém morria na
fila do hospital público, outro perdia o emprego, lá longe ou talvez bem perto,
ou quem sabe as duas coisas ao mesmo tempo possam ter um ser humano morrendo de
fome, e este morrendo no sentido literal da palavra. Mas deixemos esta conversa
melancólica de lado, afinal, temos gente
bonita e rica para ver na TV, nos jornais... ah, sim! E por falar em jornais,
quem disse que essa gente poderosa não tem utilidade e valor? Os jornais nos
quais desfilam sua ascensão podem estar servindo neste momento de cama e
cobertor para alguém que vive nas ruas, ou então, podem estar desempenhando a nobre
tarefa de limpar a humilde bunda das nossas mazelas sociais.
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Me faça esse carinho
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Me faça esse carinho
1 comentários:
João,
Ainda que um pouco atrasada, gostaria de agradecer pelo carinho.
Sinto-me honrada em participar deste seu espaço maravilhoso.
Um grande abraço!
Luciana Pitanga Valadares
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