16 de jun. de 2014

Perdão, poeta!



Meus queridos, cometi um equívoco de autoria no post “Às voltas com o bruxo”; e para me redimir com Vinícius de Moraes, que está lá nas estrelas vigiando a minha ignorância, publico o seu “Poema enjoadinho”, de cujos 4 primeiros versos cometi uma paródia.





Poema enjoadinho

Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete…
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los…
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!


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25 de mai. de 2014

Às voltas com o bruxo

Dia desses fui ao Centro  e passei pela Cinelândia, onde pretendia lanchar antes de tomar o Metrô de volta a casa. Deparei-me com a feira de livros que volta e meia estaciona por lá, e circulei entre as tendas à procura de algum alimento para o espírito que me não fosse indigesto ao bolso. Interessei-me por dois títulos de crítica literária sobre a obra de Machado de Assis. Eliminei um, para não eliminar o lanche. Ao sentar-me no bar Amarelinho, já lia “Tempo e Metáfora em Machado de Assis”, de Dirce Cortes Riedel – professora emérita da UERJ (já falecida).
É a primeira vez que leio um livro de crítica literária; e isto é mais uma peça – involuntária e póstuma – do bruxo do Cosme Velho!




Não vou mentir e dizer-lhes que entendi tudo perfeitamente, que agora sou um expert em Machado. Para ter “fumos” de expert, teria de ler mais, muito mais, nem o resto de vida me daria tempo.
Mas, em que pese a linguagem técnica e acadêmica a que não estou afeiçoado,  as muitas referências filosóficas e  de outros críticos que evidentemente não conheço, a autora abriu-me os olhos para novas leituras e releituras do autor. Tanto que estou determinado a reler algumas obras, sob novo olhar, especialmente Quincas Borba, que li apenas uma vez e há muito tempo, e de igual modo o Memorial de Aires. Sem embargo de outras obras da primeira fase do autor, e uma infinidade de contos que não conheço. Vagar eu tenho, haja olhos!
Resumindo, caríssimos; lendo um livro, se há boa vontade e alguns neurônios, sempre se aprende alguma coisa. O principal é que há muito ainda por aprender!
E para fechar com pertinência e humor, cometo aqui uma paródia a Drumond:
Ah! livros, livros, melhor seria não os ler; mas se os não lemos, como aprender?


OBS: A paródia acima não é a Drumond, como está no texto, mas a Vinicius de Moraes. Os versos parodiados são estes: Filhos... Filhos?/Melhor não tê-los!/Mas se não os temos/Como sabê-lo?. Estão em "Poema enjoadinho", na Antologia Poética, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 195.
Quem me alertou para o equívoco de autoria foi a minha amiga virtual Jussara Neves Rezende, do blog Minas de Mim. Obrigado Jussara!

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21 de abr. de 2014

Um editor atrapalhado


Uma das ilustrações de
"Galo, galinha e pinto e outras histórias"
Escrevo estas poucas linhas, se não são poucas foi a maneira de iniciar o texto dando notícias do meu “Galo, galinha e pinto e outras histórias”, há tempos prometido e ainda não cumprido.
Já disse que ando com veleidades de escritor neófito; pois agora meti-me também a editor. Imaginem!
Para tal era preciso que me cadastrasse na Agência Brasileira do ISBN para obter o meu prefixo editorial e o ISBN (International Standard Book Number) e código de barras para o livro a ser editado. Isto eu queria, para que o meu livrinho tivesse todas as formalidades dos outros livros. As editoras de demanda fazem o procedimento, mas cobram, é claro, e a menos que eu tivesse uma editora que me bancasse, era preciso diminuir custos. E é “facinho”, é on line, me disse a simpática atendente da gráfica onde fiz o orçamento para uma tiragem de 500 exemplares.
Pois bem, meus amigos, não era tão facinho assim.
Pra começar, o site da agência é novo, e como toda coisa nova, ainda não testada pelo uso, apresentava algumas deficiências de informação e comunicação, que eu só pude superar com inúmeros telefonemas para a agência, ao longo das quatro tentativas que fiz.
Na primeira tentativa logo desisti. E optei por ir pessoalmente na agência entregar os documentos e comprovante de pagamento dos serviços. Não pode, o senhor começou on line tem que terminar on line. Mas não tem problema, nós lhe devolvemos a tarifa na sua conta corrente. Não tem problema! óh, céus!
Segunda tentativa on line: cancelada sem eu saber o porquê.
Quando voltei de minhas férias das férias nos sertões do Pará, dei um tempo, escrevi várias crônicas, dei mais um tempo e voltei à carga: terceira tentativa. Desta vez notei várias informações que não existiam antes no site. Uma delas: os tipos de arquivos que o sistema admitia para anexar CPF e folha de rosto. E agora ficava sabendo por que nada dera certo antes: um dos meus arquivos a anexar estava em jpg e o outro em doc – um dos padrões não aceitos pelo sistema. Chamei o meu Rafael, que rapidamente transformou, não sei por que passes mágicos, doc em pdf, e assim foram anexados.
Desta vez vai! Ah! se não!
Não foi. Recebi e-mail: não foi possível atender o seu pedido; diagnóstico do analista – anexar CPF e folha de rosto.
Putz!
Passaram-se alguns dias em que  fiquei ruminando o acontecido e fui para a quarta tentativa, e esta seria a derradeira, eu já estava a ponto de mandar tudo para os quintos dos infernos (menos o meu livrinho, é claro!). Por precaução eu mesmo preparei os dois arquivos em jpg, vá lá saber se deram errado as mágicas do meu filho Rafael. E chamei o meu Daniel para ficar ao meu lado fiscalizando, no pressuposto de eu estar errando algum procedimento.
E clic daqui e clic dali, o CPF já está anexado, agora vamos para a folha de rosto…Não, pai, não! Espera um pouco, deixa completar a transferência do arquivo…
Putz! Mil vezes putz!
Até aqui eu fechava o pedido de ISBN antes que se completasse a transferência dos arquivos (quando pára de rodar aquele circulozinho, lá em cima, e que eu nem via). Por isso os arquivos não iam, não chegavam na agência. Ai, meu pai! Tu te enchias de suor e fuligem na carvoaria, mas não tinhas que passar por isto!
Bem, amigos, desta vez deu certo, já estou com o prefixo editorial e o ISBN para Galo, galinha e pinto, mas tem um outro porém: gastei o dinheiro que reservara para a impressão. Nada que não se resolva, mais um pouco de paciência, em julho mando para a chocadeira (ou será prelo?).
Empanturrem-se de futebol e aguardem.

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3 de abr. de 2014

O misterioso entregador de revistas


Pensava que tinha lido Vidas secas, de Graciliano Ramos; engano da minha memória; o que eu li, na minha juventude, foi Seara vermelha, de Jorge Amado, sobre o mesmo tema da seca nordestina. E vi, na mesma época, o filme de Nelson Pereira dos Santos sobre a obra do Graciliano. Mas do enredo e dos personagens pouco lembrava, só não esqueci da cachorrinha Baleia.
Estava pois a ler Vidas secas na manhã do último domingo, sentado no sofá da varanda, quando Rita, – que saía para a missa – , voltou e entregou-me a revista: “Olha aqui, entregaram hoje”. Concentradíssimo como estava na leitura, peguei a revista e olhei a capa: nenhuma imagem ou forma bem definida ou impactante; apenas tons de azul, esmaecidos e imprecisos, puxados ao branco, nada que me chamasse a atenção de imediato. O melhor é que eu não precisaria telefonar para a editora reclamando dos desacertos do entregador nas últimas semanas. Agora me entregava a revista adiantado, pois que geralmente é entregue às segundas ou terças. Pousei a revista no sofá e retomei a leitura do  Graciliano, que só terminei por volta do meio-dia.



Esclarecendo o leitor: já notara a falta da revista durante as semanas anteriores, até que uma vizinha entregou-nos dois exemplares, dizendo que um terceiro se estragara com a chuva, e que o entregador as entregara por engano em sua casa. Verifiquei a etiqueta de endereçamento; o meu endereço estava correto, o entregador é que era um trapalhão (ou míope).
Depois do almoço fui tirar a sesta. Quando acordei, lembrei-me da revista e decidi terminar o dia lendo-a. Fui buscá-la ao sofá. Não a encontrei. Rodei a casa, nada. Fui ao quarto e perguntei à Rita ainda sonolenta: nada sabia da revista. Voltei ao sofá, já intrigado, procurei atrás, dos lados, embaixo. Nada! Esperei meus filhos descerem e perguntei-lhes; não pegaram a revista! Desisti de procurar a maldita revista.
Segunda-feira falei novamente a Rita sobre o caso; ela jamais me estregara revista alguma. Então eu sonhara, só pode! Mas em nenhum momento percebi ter sonhado, como é comum quando acordamos após um sonho. A impressão foi tão nitidamente real que sequer desconfiei da possibilidade de um sonho. Aquela revista, aquela capa de tons azuis esmaecidos, puxados ao branco…




Terça-feira entregaram-me a revista: estava na caixa de correio. Não a recebi de Rita, mas de Daniel, meu filho. E eu não estava no sofá lendo Vidas secas, mas na cozinha lavando a louça. E aquela revista agora em minhas mãos eu já conhecia, aquela capa em tons de azul esmaecido, puxados ao branco… Era uma reportagem sobre a escassez de água em São Paulo e outros lugares.
E agora o que me dizem, caríssimos, desse entregador de revistas? Não o de terça-feira, mas o de domingo?

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