21 de jun. de 2015

Tirando uma flecha do meu peito

No post anterior, Parem o bonde que eu quero descer (mas não há bonde), falei de situações de rua que nos trazem  à alma desassossego e angústia. Foi diferente neste sábado, 20/06/15. Saí à rua para ver e participar do 2º FESTIVAL CARIOCA DE ARTE PÚBLICA, agora em Marechal Hermes durante os próximos 60 dias. O festival acontece em comemoração ao 450º aniversário da cidade do Rio de Janeiro, no âmbito da lei municipal 5.429/2012, que dispõe sobre apresentação de artistas de rua nos logradouros públicos da cidade.
A minha participação foi mínima: ler um manifesto ao povo de Marechal Hermes, logo ao início das manifestações culturais. Mas bom mesmo foi o que houve antes e o que veio depois.
Concentração na praça Monte-se. Cheguei quando se iniciava o cortejo pela calçada central da avenida, em direção à praça XV de Novembro, local do evento.
Ah! meus queridos! Fogos estourando no ar, aquele som mambembe da fanfarra, o padroeiro São Sebastião conduzido à frente, e o líder do grupo TÁ NA RUA, organizador do evento, em charrete puxada a cavalo, anunciando a festa. E palhaços, e capoeiristas, e bailarinas, e pernas de pau… Ai, que lindo!
Tive de afastar-me para me recompor da emoção. Não sei o que acontece comigo! Nostalgias da infância? A música do Zé Pereira no arraial da santa? Parece que aquela música me acompanha em diferentes formas e circunstâncias. Mas então eu não me emocionava em lágrimas, tudo era muito natural como são naturais as crianças. Será que então eu era mais homem que agora? Ou agora sou mais menino que então?
Recomposto, voltei  ao cortejo e cheguei à praça de alma lavada, para ler o manifesto. Depois foi um suceder de atrações, até às 19 horas: circo, dança-afro, dança cigana, capoeira, teatro de rua; uma festa da diversidade cultural e do povo carioca; uma festa para os olhos e para a alma, como Marechal jamais viu!


A cultura, me parece, é um denominador comum que aproxima, solidariza as pessoas; não aparta nem divide, mas soma. Foi o que vi na praça XV de Novembro, em Marechal Hermes.

10 de jun. de 2015

Parem o bonde que eu quero descer! (mas não há bonde)

No último fim de semana fui a São Gonçalo visitar a minha irmã Rosa. Fui pelos modais de costume: trem, ônibus, barca, ônibus. Gosto de passar na praça XV, pelos ecos do passado barroco ali presentes, e mais recentemente para “fiscalizar” as obras em andamento naquela região, que prometem revitalizar lindamente toda a orla, do Largo da Misericórdia até o cais do porto. Tenho outra motivação antiga: cruzar a Baía de Guanabara, por cujas águas naveguei, entrando nesta cidade, há mais de 58 anos. É um regalo aos olhos e um resvalar em nostalgias que me serenam a alma, longe das aflições de agora.
Pois bem. Em Niterói fiz um lanche e dirigi-me ao terminal rodoviário para a última etapa da viagem. Antes deparei-me com um grupo de teatro de rua, se assim posso dizer; um ator e uma atriz (jovens) representavam no chão, sem que eu pudesse atinar do que se tratava; várias mulheres à volta ostentando cartazes, em silêncio. Pus-me a ler os cartazes: todas elas eram vítimas de abuso sexual na infância ou adolescência. Os atores representavam um roteiro de pedofilia doméstica (pai e filha), possivelmente óbvio, mas convincente e angustiante para mim, que o assistia. Retirei-me. A serenidade interior esvaíra-se.
Não que no meu tempo não houvesse pedofilia. Nem tenho reparos a fazer ao grupo que se manifestava em repúdio a esse abominável crime contra a infância. É preciso mesmo divulgar e conscientizar as pessoas sobre esses fatos, infelizmente, ainda corriqueiros. Retirei-me porque estou saturado desses horrores: crianças maltratadas, abusadas; crianças morrendo de fome e doenças; outras fugitivas da guerra, com suas famílias, embarcadas como escória em frágeis embarcações, na esperança de uma vida melhor, e muitas delas finalmente sepultadas no fundo do Mediterrâneo.
Retirei-me porque estou cansado de tanta informação ruim. Se fico em casa a televisão me bombardeia, se saio... O mundo está virando um circo dos horrores (ou já era e não sabíamos).
E ver aquela menina com os olhinhos fixos na teleobjetiva, em meio à grande tragédia, e ainda assim, com tanta inocência, esboçar um leve sorriso… dói... 

16 de abr. de 2015

Sorteio de boneca mineira



Sorteio de linda boneca artesanal no Minas de mim, até dia 09/05. Para participar, clic aqui e faça um comentário no blog da Jussara. Abraços.

13 de abr. de 2015

Bookcrossing Blogueiro–3

Descendo da prateleira
Escrevi Cacos da memória entre 2006 e 2008, a partir de um evento ocorrido na cidade de Cunha – SP, que abre o livro sob o título de “A menina do guarda-chuva e os meus sapatos de verniz”, por ocasião de visita a um amigo de longa data, mas de há muito desgarrado da minha vida.
Ao escrevê-lo descobri que gostava de escrever; e o que era para ser meia dúzia de pequenas histórias virou um livro com mais de cem fragmentos da memória; e no conjunto uma crônica da minha família naquele período de dez anos.
E também descobri, ou redescobri, a aldeia da minha infância, longe no espaço e no tempo e quase apagada da minha memória. Visitei seus lugares (os meus lugares), seus habitantes e suas histórias. E aquela aldeia – Minas do Palhal – renasceu em mim.
Pude notar, enquanto escrevia e, principalmente, ao fim da tarefa, uma aproximação afetiva com o lugar e seus habitantes. A aldeia, que nos primeiros textos eu designei por “um lugar como aquele”, ao meio do livro designava por seu próprio nome e ao fim já era a “minha aldeia”.




Um amigo virtual português, Nuno Jesus, ao ler “Cacos da memória” derramou-se em elogios. Não compreendi bem o seu entusiasmo.
Nuno é diletante e pesquisador da etnografia daquela região em que se insere a minha aldeia; e autor, juntamente com a historiadora Nélia Oliveira, do livro “Ribeira de Fráguas – sua história”. Nuno enviou-me o ficheiro com a diagramação de outro livro seu, este em coautoria com Emília Campos e Vera Marques: “Telhadela – perspectiva histórica e etnográfica”. Ao ler o trabalho, lindamente ilustrado com fotografias de época, compreendi o entusiasmo de Nuno com o meu livro e também o significado da palavra etnografia, desconhecido para mim àquela altura. É que de certa maneira eu também fiz etnografia em Cacos da memória - sem o saber, porém, e portanto sem o compromisso e o rigor da ciência. Fiz etnografia contando histórias. Talvez por isso agradável de ler, segundo depoimentos vários.

Este é o livro, entre outros, que desço da prateleira para iniciar a aventura do bookcrossing blogueiro, iniciativa do blog Luz de Luma, yes party!, da minha amiga Luma Rosa.
Boa viagem, amigos.


1 - Viajante: Cacos da memória, de João Antonio Ventura
      Início da viagem: 13/04/2015

2 - Viajante: Poemas, de Fernando Pessoa
      Início da viagem: 21/04/2015

3 - Viajante: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
      Início da viagem: 05/05/2015

4 - Viajante: Esaú e Jacó, de Machado de Assis
      Início da viagem: 27/07/2015

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