6 de dez. de 2012

Meu caso com Niemayer


Caso de admiração incondicional, mas contida.
Admiração incondicional, desde sempre, pelo grande artista que foi, e pela percepção, nos últimos tempos, da sua estatura humanista, cuja estrela continuará iluminando gerações.
Admiração contida, em virtude de minha natureza tímida.

Algum tempo atrás, não faz muito tempo, fui ao Riocentro ver a megaexposição da obra de Niemayer, exposição esta que depois foi para São Paulo e Brasília e também para o exterior. Ao entrar, me confundi e fui parar noutra exposição, de móveis. Pensei que havia me equivocado quanto à exposição do arquiteto e, para não perder a viajem, entrei. Vi rapidamente, saí. E só então descobri o pavilhão da exposição do mestre. Mas já havia perdido um precioso tempo.

Quando vou a uma exposição, ou museu, paro diante da obra e fico apreciando durante longo tempo; e quando tem maquete então, giro em volta, agacho, examino de todos os ângulos, um inferno para quem estiver me acompanhando. Por isso gosto de ir sozinho. E era o caso, então.
Ainda fora do pavilhão, mas já apreciando absorto as primeiras obras expostas, de início de carreira, pensava: "Ele faz com o concreto coisas que até Deus duvida".
Então, olhando de soslaio, vi o Oscar Niemayer saindo do pavilhão, fumando sua cigarrilha. Era a hora de aproximar-me, cumprimentá-lo, expressar a minha admiração... Mas não quis incomodar...
Na verdade, incomodado estava eu, não com a presença do arquiteto, que era pessoa afável, mas com a minha timidez. Como quando se vê uma mulher muito bonita e se imagina que é muita areia para o seu caminhãozinho. Ah! pobres tímidos! Quantas oportunidades perdem!
E fingi não perceber a presença do homem, ignorei-o, e continuei a ver as obras, e entrei no pavilhão.

Daí em diante foi só encantamento com a obra exposta!

Mas de repente a luz apagou, os seguranças apagaram-na, o tempo acabara, saí batido.

Não conformado, voltei no dia seguinte: queria ver o restante das obras expostas e o documentário em que o próprio Oscar falava do seu trabalho e da sua vida.
Ao entrar, veio ao meu encontro uma jovem senhora, neta de Niemayer e curadora da exposição. Percebera a minha saída intempestiva no dia anterior, reconheceu-me e pedia desculpas pelo ocorrido. Tentei amenizar:
- É que eu já cheguei um pouco tarde...
- Não, eles não podiam ter feito isso. Já foram advertidos. Desculpe. O Oscar esteve ontem aqui. O senhor viu, falou com ele?
-Não, não percebi, estava tão absorto nas obras...
- Que pena...

Vi tudo que faltava ver.
No documentário, disse Oscar: "A arquitetura não é importante, importante é a vida, as pessoas". E sobre o trabalho: "Que se foda o trabalho". Ele, que aos 104 anos ainda trabalhava!

Vai, Oscar, vai brincar com as estrelas. Nós ficamos com a saudade.

* A grafia correta é Niemeyer

 

1 comentários:

mariza disse...

Olá, bela homenagem. O Brasil perde um grande profissional. Abraços

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