16 de fev. de 2014

A inspiração que não foi, mas poderia ter sido

Fui buscar Yasmin para mais um fim de semana em minha casa. Sua mãe fazia uma faxina nos cacarecos da casa e havia enchido um saco preto com livros destinados ao lixo. Por sugestão da pequena, fui garimpar no saco preto e salvei cerca de vinte livros, a maioria muito bons. Trouxe para casa uma sacola cheia; assim tenho livros para doar nos saraus que por vezes frequento.
Um desses livros reservei para mim: “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego. Apesar de ter referências da obra e do autor , jamais tinha lido qualquer coisa do José Lins (que vergonha!). O meu interesse por “Menino de Engenho” cresceu a partir do momento que a minha amiga virtual Jussara Neves Rezende, ao resenhar o meu “Cacos da memória”, disse que este é do mesmo gênero daquele. Fiquei curiosíssimo e agora apresentava-se a oportunidade de conhecer a obra que poderia  ter sido inspiração para mim.



Li e reli “Menino de Engenho”. A primeira vez sofregamente, a segunda com mais vagar e melhor apreciação.
É impressionante a similaridade dos dois livros, resguardadas as devidas proporções e diferenças culturais. O de Lins apresenta uma realidade dramática, até mesmo cruel, nas relações da produção açucareira no interior da Paraíba; no meu, apesar das muitas dificuldades, a realidade não é tão dura, eu diria mesmo amena, em relação ao romance de Lins.
Mas o que realmente me impressionou – e aí reside a similaridade – foi o universo das crianças no engenho Santa Rosa. Lendo o livro, pensei com os meus botões: as crianças são mesmo  muito parecidas, qualquer que seja o espaço e o tempo – só mudam de nome e endereço! O mesmo encantamento por ouvir histórias da tradição oral, na Paraíba histórias de Trancoso; a mesma curiosidade por máquinas e ofícios (os meninos); a mesma atração por conversas de adultos, no sentido de conhecer/descobrir o mundo. Até algumas brincadeiras e traquinagens são as mesmas, na essência, variando apenas nos aspectos culturais.




Escrevi “Cacos da memória” na intuição, sem qualquer plano ou modelo a seguir: desejava escrever meia dúzia de histórias da minha infância, por sugestão e incentivo de meus sobrinhos, e acabei escrevendo um livro. A minha inspiração, posso dizer, foi a “Menina do guarda-chuva”, garota anônima que vi passar numa rua da cidade de Cunha – SP. Menina cuja história abre o meu livro e que, juntamente com a “Nota do autor”, funciona como prefácio.


Mas se tivesse lido anteriormente o “Menino de Engenho”, do José Lins do Rego, melhor inspiração não teria. Amei. Obrigado, Jussara.

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Me faça esse carinho  

3 comentários:

denise rangel disse...

Bom dia, João
Que cantinho maravilhoso! Suas histórias nos envolvem como em uma conversa entre amigos. Há quem diga que as histórias estão nas ruas, à nossa volta e basta abrir os olhos e os ouvidos para captá-las. A inspiração, com o trabalho de elaboração do escritor nos trazem pérolas perpetuadas nos livros que admiramos.
Uma boa semana!
abraço, garoto

Jussara Neves Rezende disse...

Oi, João Antônio!
Adorei saber que foi por sugestão da pequena Yasmin que vc foi garimpar o saco de livros... eita menina esperta! E que maravilha saber que, depois de realizada a leitura, a sua impressão sobre "Menino de engenho" não desmentiu a impressão que tive de que a sua obra se enquadra no mesmo gênero. Amei saber!
Muito acertado tb o comentário da Denise Rangel sobre suas histórias envolverem como uma conversa entre amigos. Tb sinto assim e acho muito bom!
Perdoe-me por não ter avisado antes sobre ter citado sua crônica no meu post. Ando numa correria sem explicação...
Abraço!

Joao Antonio Ventura disse...

Não seja por isso, Jussara. Fique à vontade para citar o que quiser e quando quiser. Para mim será sempre uma honra. Abraços.

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