Um réveillon inusitado
Boa parte da população de Serra Azul comparece ao réveillon da Camaçari. O acesso à fazenda fica lotado de carros e motos. Churrasco tem para todos (bebida não). E neste ano o forró foi incrementado com luzes estroboscópicas e fumacinha artificial, por obras e artes de Pedro e Diogo. José Barbeiro percorre o pátio cumprimentando os que chegam e me leva consigo; diz que vamos fazer uma ronda para ver se está tudo em ordem. Está. As pessoas ficam ao largo, mas aos poucos se aproximam, se entrosam, e mais um pouco algumas já estão dançando na varanda.
José Barbeiro tem por hábito e gosto, por ocasião da passagem de ano, exercitar sua verve e sua veia política, discursando um pouco antes da meia noite. Fui convidado a dizer algumas palavras, depois de outros e antes de José, que encerraria o falatório. Além da praxe de agradecer pelo bem que passou e desejar saúde e paz no ano que estava por chegar, falei da minha satisfação em estar ali, em conhecer aquelas pessoas simples e autênticas e conviver com elas - as que sabia o nome e as que não sabia, as da fazenda e as de Serra Azul. Eu fora tratado por todos com muita consideração e carinho. E carinho ninguém esquece. Disse que levaria deles saudade e deixei com eles a promessa de voltar.
José discursou tão inflamado que temi pudesse ele enfartar ou sair voando pelo espaço, tal era o gestual que acompanhava a fala. Porém a técnica esqueceu de acender as luzes e o orador discursou no escuro.
À meia noite estouram dois singelos rojões. Olho para o alto. O céu está lindamente estrelado como só no sertão se pode ver!
COMENTE
Me faça esse carinho
4 comentários:
Que delicioso relato de viagem! Taí material para outro livro!
Amei o último parágrafo com o jogo entre a singeleza dos dois rojões e a lindeza do céu estrelado!
Como o lugar e toda gente de lá: uma crônica simples, e muito objetiva!!! Gostei.
Acabo de vir da casa de meus pais com quem compartilhei algumas das peripécias de sua viagem e voltei aqui para dizer que eles amaram tudo o que contei. E meu pai sorriu! Ele tem Alzheimer e está há anos na cama, totalmente dependente e cada dia mais silencioso e alheio a tudo. E sorriu com o relato da visagem de D. Magnólia!
Obrigada por partilhar numa prosa tão gostosa essas experiências. Obrigada pelo sorriso do meu pai!
Fico feliz por ter contribuído para o sorriso do seu pai, Abraços.
Postar um comentário